Eles atuaram como voluntários e seis deles ganharam emprego com carteira assinada | Crédito: Edu Kapps / SMS
Há poucos meses, eles estavam isolados da sociedade. Hoje, ajudam a Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) a construir e preservar o patrimônio público. Integrantes do Programa Seguir em Frente, da Prefeitura do Rio, voltado à ressocialização da população em situação de rua, atuaram voluntariamente nas obras do Centro Municipal de Saúde (CMS) Eliza Abrantes, no Lins de Vasconcelos, inaugurado na última quarta-feira (3). Eles hoje moram na Residência e Unidade de Acolhimento – RUA Sonho Meu, em Cascadura, e estão iniciando uma nova fase do programa: a reinserção no mercado de trabalho. Seis deles, que se destacaram nos seus afazeres, foram contratados pela empreiteira responsável pela obra e agora, de carteira assinada e com a autonomia resgatada, poderão finalmente seguir em frente.
Com brilho nos olhos e sorrisos orgulhosos: foi assim que essas pessoas, que antes do programa viviam em situação de rua, chegaram para o evento de inauguração do novo CMS. Em homenagem ao grupo de voluntários, uma mensagem de agradecimento estampa a placa de inauguração da unidade.
Felizes com os seus trabalhos, e alguns começando o processo para assinar a carteira, os rapazes fizeram um tour pela unidade para ver como ficou o resultado de seus esforços. Eles atuaram como ajudantes de pedreiro e fizeram de tudo um pouco, como pintura, preparo de cimento, descarga de material e a limpeza final.
Os integrantes do Seguir em Frente que participaram do trabalho voluntário no CMS Eliza Abrantes já realizavam as atividades de estágio remunerado desenvolvido na própria RUA Sonho Meu, para reinserção no mercado de trabalho. Ao todo, mais de 15 moradores do local se voluntariaram para as obras da unidade no Lins de Vasconcelos. Os que ainda não tiveram a oportunidade de contratação continuarão no estágio remunerado, atuando no próprio abrigo administrado pela SMS e em clínicas da família, auxiliando nos serviços gerais.
Renato Stavale Cardoso Ribeiro, um dos voluntários que participaram das obras, foi contratado e exibiu simpatia durante o evento de abertura do CMS Eliza Abrantes. Aos 24 anos, ele entrou no Seguir em Frente em dezembro do ano passado, depois do acolhimento no Ponto de Apoio na Rua – PAR Carioca, equipamento itinerante que tem o objetivo de aproximação com os grupos de pessoas em situação de rua.
“Fui recebido com muito carinho quando cheguei lá, mas no início foi muito estranho. Eu não estava acostumado a ser tratado assim e não estava colocando fé”, conta Renato, que também é paciente no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad) Dona Ivone Lara. “Eu só tenho a agradecer ao Seguir em Frente, estou fora das ruas e longe das drogas. Com a ajuda dos profissionais do CAPS, estou me reerguendo.”
André da Conceição Santana também foi um dos voluntários que tiveram a carteira assinada. Após três anos vivendo nas ruas devido a conflitos familiares, ele buscou o PAR Carioca em dezembro. Entre idas e vindas, finalmente chegou ao CAPSad Dona Ivone Lara em março de 2024 para receber tratamento adequado e uma nova oportunidade de vida.
“É um projeto muito importante, fiquei muito feliz em ajudar nas obras de uma unidade de saúde, que vai cuidar de muitas pessoas. A partir de agora, eu vou mostrar ainda mais o meu trabalho, sempre dando o meu melhor”, diz André.
Para Lucas Barreto Correia, de 34 anos, o trabalho voluntário no CMS e o estágio remunerado têm um significado ainda maior. Nascido e criado em Brasília, Lucas veio para o Rio de Janeiro para tentar uma oportunidade de trabalho mas, sem sucesso, ficou nas ruas e começou a usar drogas. Agora ele segue nas atividades de estágio remunerado no RUA Sonho Meu.
“Quando eu ouvi falar que a Prefeitura havia inaugurado um novo projeto para moradores de rua, eu prometi a mim mesmo que iria para lá e ia mudar minha vida”, conta Lucas.
Programa Seguir em Frente
O Programa Seguir em Frente é um plano de ação e monitoramento para efetivação das medidas de proteção à população em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro. O planejamento estabelece diversas medidas de acolhimento, assistência social e saúde para o cuidado e diagnóstico desse grupo populacional mais vulnerável. O objetivo é criar condições para a ressocialização, promovendo a reinserção no mercado de trabalho e resgatando a cidadania.
A proposta do projeto é, em cinco fases sequenciais, criar condições para que as pessoas saiam das ruas para unidades de acolhimento; promover o tratamento de saúde que cada um precise; dar ocupação remunerada, no próprio projeto, em atividades de interesse público ou em instituições parceiras; construir um futuro com a preparação para o mercado de trabalho e geração de renda; conquistar autonomia para deixar o programa e seguir em frente, reinserido na sociedade e com a cidadania resgatada.
