
Para aumentar a chance de sobrevivência de vítimas de acidentes de trânsito, tiros, tentativas de feminicídio e outros traumas que envolvam sangramento, a Secretaria Municipal de Saúde está treinando guardas municipais em técnicas de primeiros socorros. A ideia é que eles prestem esse atendimento até a chegada de equipe médica especializada ou a entrada do paciente numa unidade hospitalar. A iniciativa é inédita, e a meta é preparar todo o efetivo de 7,5 mil agentes. Cerca de 250 já foram capacitados.
A Superintendência de Urgência e Emergência da SMS está à frente do curso. De acordo com a unidade, as três principais causas de óbitos no Brasil e no mundo são, respectivamente, doenças cardiovasculares, câncer e causas externas, como acidente, tiro, envenenamento e afogamento. Quando o recorte é a população economicamente ativa, pessoas até 49 anos, as causas externas sobem para o primeiro lugar nesse ranking. O Rio reproduz a estatística.
“O curso é voltado para público leigo, não é para profissionais de saúde, e tem a intenção de melhorar o prognóstico, a expectativa de vida dessas vítimas. Essa parceria com a Guarda é muito importante, pois entendo que, muitas vezes, o primeiro agente que chega ao cidadão é o guarda municipal”, observa o superintendente de Urgência e Emergência da SMS, o cirurgião Paulo Silveira, que também é instrutor do curso.

Com atividades teóricas e práticas, a capacitação dura cerca de duas horas, ocorrendo sempre às quintas-feiras, pela manhã, na sede da GM-Rio, em São Cristóvão. GMs com formação na área da saúde estão sendo credenciados para se tornarem instrutores e multiplicarem os ensinamentos, como a agente Glória Maria Bastos Barreto, de 49 anos, que é fisioterapeuta e comandante da Ronda Maria da Penha, responsável pela fiscalização do cumprimento de medidas protetivas a mulheres vítimas de violência doméstica na capital.
“Esse treinamento é importantíssimo porque agrega um conhecimento que ajuda a salvar vidas. Acompanhamos mulheres diariamente, por meio de visitas domiciliares, e acabamos criando um vínculo com elas, por isso, muitas das vezes, somos os primeiros a chegar ao local. Agora, além de acionar o socorro especializado, podemos auxiliar estancando possíveis sangramentos em vítimas de tentativa de feminicídio, o que infelizmente pode acontecer, principalmente com uso de armas brancas”, afirma a comandante.
Projeção internacional – O curso é chancelado pelo Colégio Americano de Cirurgiões e, portanto, o certificado é de nível internacional. Todos serão registrados no site www.stopthebleed.org.
“Assim como há treinamentos para leigos para prestação de primeiros socorros no caso de paradas cardíacas, o treinamento para frear o sangramento em vítimas de trauma também precisa ser disseminado, pois ajuda a salvar vidas. Nosso objetivo é trazer esse conhecimento para a cidade, começando pelos servidores da GM”, ressalta Paulo Silveira.