
O Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso (PADI) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) completa 15 anos este mês. Em números, mais de 40 mil pacientes foram atendidos e mais de 2,6 milhões de procedimentos realizados ao longo desses anos. Criado como política pública da Prefeitura do Rio em agosto de 2010, o PADI oferta cuidados em saúde nos domicílios com equipe especializada e plano terapêutico individualizado. Apesar do nome, o programa pioneiro, que serviu de inspiração para o Melhor em Casa, do Ministério da Saúde, atende hoje a pacientes de todas as idades que estejam restritas ao leito ou ao domicílio e que atendam aos critérios de elegibilidade e complexidade da assistência em atenção domiciliar.
Para contar a história do PADI é preciso voltar para o final do século XX, quando surgiu a semente do programa. Em 1997, um grupo multiprofissional andava pelas enfermarias do então Hospital Municipal Paulino Werneck, na Ilha do Governador. A médica Guilhermina Galvão Gomes observava o fluxo de atendimento. O cenário era de poucos leitos, custo alto de internação, atenção básica ainda escassa e sem acompanhamento posterior após a alta hospitalar, reinternações. Ela decidiu então preparar um estudo para mudar aquela realidade e, com aval da secretaria, iniciou um projeto piloto para acompanhar os pacientes em suas residências, após a alta hospitalar. Guilhermina queria melhorar os índices de qualidade de vida e reduzir a incidência de novas internações hospitalares evitáveis. Quase mil pacientes egressos do Hospital Paulino Werneck passaram pelo atendimento de 1997 a 2010, quando o piloto foi institucionalizado pela Prefeitura do Rio e oficializado como Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso.
“Quando começamos, fizemos o mapeamento dos pacientes e criamos protocolos para nortear nossas atividades. A equipe original era composta por médico clínico, o Dr. João Batista Gomes, dois técnicos de enfermagem, uma enfermeira, fisioterapeuta e psicóloga. Com o tempo o serviço foi crescendo e apresentamos os dados para a Secretaria Municipal de Saúde. Com o sucesso, tudo mudou em 2010 e o PADI virou política pública e tomou proporções maiores, possibilitando com que mais cariocas de diferentes regiões tivessem acesso à saúde domiciliar”, contou Guilhermina, idealizadora do projeto piloto e que agora festeja os 28 anos de sua equipe, ainda em atividade.
Atualmente, o PADI conta com 27 equipes, sendo 20 multiprofissionais de atenção domiciliar (EMAD), com médico, enfermeiro, fisioterapeuta e técnicos de enfermagem; e sete multiprofissionais de apoio (EMAP), com nutricionista, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicóloga e assistente social. As bases do programa estão nos hospitais Salgado Filho, Miguel Couto, Lourenço Jorge, Paulino Werneck, Francisco da Silva Telles, Rocha Faria, Albert Schweitzer, Pedro II e Cardoso Fontes, onde os profissionais captam os pacientes em condições de alta que tenham o perfil assistencial do programa. A inclusão no PADI também pode ser feita pelo SISREG, quando a Estratégia Saúde da Família (ESF) identifica a necessidade de atendimento domiciliar de maior complexidade ou no momento em que uma família procura a clínica da família solicitando o serviço, desde que o perfil do paciente esteja dentro dos critérios de elegibilidade.
“Estamos comemorando uma iniciativa pioneira no Brasil e no SUS. O PADI ajuda a acelerar a recuperação dos pacientes com os mais variados quadros, como acidente cardiovascular, neuropatias, demências avançadas e traumas que precisam de acompanhamento de equipe multiprofissional, sendo estes os mais frequentes. As equipes habilitadas e qualificadas proporcionam a independência funcional dos pacientes e auxiliam na liberação dos leitos hospitalares. E estamos falando de um serviço realizado no conforto do lar”, celebra o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
Quem já passou pelas mãos dos profissionais do PADI foi Ginul Pereira Lima, de 82 anos. Tudo começou quando ela foi diagnosticada com fibrose pulmonar e teve seu primeiro agravamento. Com quadro de pneumonia por broncoaspiração, ela ficou internada por seis dias no CER Leblon (Coordenação de Emergência Regional), ao lado do Hospital Municipal Miguel Couto. Foi nesse momento que ela e seus familiares conheceram o programa e receberam o encaminhamento. O acompanhamento começou em agosto de 2023 e, após sua evolução, se encerrou em abril de 2024.
“Minha saúde ficou mais estável com as visitas e minha casa está mais funcional. Foi um tempo maravilhoso, fazer parte deste programa mudou a minha vida e dos meus familiares totalmente. Tive até consulta com dentista e consegui um cilindro de oxigênio pelo SUS para a oxigenoterapia. Foi um divisor de águas, tivemos todo suporte dos médicos, exames e da ambulância”, relembrou dona Ginul.
Os idosos compõem 71% do público contemplado pelo PADI. Os maiores grupos beneficiados pertencem às faixas etárias de 70 a 79 anos, com 26%, e de 80 a 89 anos, com 18%. Apesar de ser prioritário para pessoas de 60 anos ou mais de idade, o programa não tem restrição de idade, sendo disponibilizado a todas as pessoas que estejam restritas ao leito ou ao domicílio e que atendam aos critérios de elegibilidade e complexidade da assistência em atenção domiciliar, como, por exemplo, necessidade do uso de equipamentos ou procedimentos de alta complexidade; drenagens; cuidados paliativos; condições crônico-degenerativas progressivas; afecções agudas e crônicas agudizadas; entre outros critérios.
Desde março de 2025, o pequeno Dominic Souto, de 1 ano e cinco meses, vem sendo acompanhado pelo PADI. Diagnosticado com atrofia muscular espinhal (AME), ele ficou internado durante seis meses no Hospital Municipal Albert Schweitzer. Com a alta hospitalar, passou a ser acompanhado em casa. Quem melhor descreve cada avanço do Dominic é sua mãe.
“Dom evoluiu muito desde que chegamos em casa. Junto com a medicação, as terapias têm sido cruciais para o seu desenvolvimento. Hoje, ele consegue erguer a mão, fazer pequenos movimentos como balançar as pernas, mexer a cabeça e ainda consegue comer pequenas porções de papinha. Tudo isso graças ao trabalho das profissionais que atendem ele em casa”, compartilhou a mãe, Raissa Barbosa Souto.
A principal linha de cuidado do Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso é a reabilitação, com 57,85%. Nos últimos quatro anos, o PADI expandiu e aumentou o número de bases e de equipes. Para os próximos anos, a SMS pretende estender suas áreas de atuação para mais hospitais municipais da rede.