A especialidade que compreende profundamente a realidade de cada paciente - Foto: Edu Kapps/SMS
No dia 5 de dezembro se comemora o Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade, o especialista que atua como porta de entrada do SUS e acompanha o paciente ao longo de toda a vida. Na Atenção Primária, são os médicos de família que cuidam, orientam, previnem e constroem vínculos duradouros com as pessoas, entendendo não apenas suas doenças, mas também seus contextos, famílias, territórios e histórias.
A Medicina de Família e Comunidade é a base da Estratégia Saúde da Família, modelo que se consolidou no país por colocar o cuidado contínuo e a proximidade com a comunidade no centro da saúde pública. No Rio, o trabalho desses médicos se soma ao de enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários para garantir atendimento humanizado, acesso e acompanhamento integral.
Um olhar profundo que transforma vínculos
Para a médica de Família e Comunidade Nathália Nascimento Gonçalves, 29 anos, da Clínica da Família Estácio de Sá, a escolha pela especialidade veio da experiência vivida dentro da própria unidade onde hoje atua como preceptora. “Eu descobri que queria ser médica de família quando percebi que, em outras áreas, eu veria apenas um ponto da vida do paciente. Aqui eu acompanho a pessoa como um todo, ao longo do tempo. Gosto desse olhar longitudinal, dessa possibilidade de construir confiança”, afirma.
Ela conta que o vínculo criado no território impacta diretamente o cuidado. “É muito comum ouvir do paciente: ‘ainda bem que é você, posso falar a verdade sobre o que estou vivendo’. Isso muda tudo. A gente vê os pacientes dentro e fora da clínica, acompanha perdas e conquistas. Eles marcam profundamente nossa trajetória, e nós marcamos a deles.”
A base do SUS perto de quem mais precisa
A Atenção Primária é responsável por resolver até 80% dos problemas de saúde da população e reduz a necessidade de atendimentos em pronto-socorro. No Rio, a expansão e fortalecimento dessa rede tem permitido maior acesso, segurança e continuidade do cuidado.
O município do Rio conta com 1.378 equipes de saúde da família, compostas também por enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários. Em 2025, o Rio de Janeiro alcançou a cobertura de 71% da população pela rede de Atenção Primária, que hoje tem 239 unidades (clínicas da família e centros municipais de saúde) espalhadas pelo território.
Cuidado contínuo, solidariedade e compromisso social
Com 30 anos de experiência como médico de família, o médico Rafael Castillo Duranza, que foi mentor de Nathália, destaca que sua trajetória foi guiada pelo compromisso com populações em contexto de vulnerabilidade e pelo impacto social da Atenção Primária.
“A Medicina de Família me permitiu atuar em vários países e sempre ao lado das pessoas que mais precisavam do meu trabalho. O modelo brasileiro é muito avançado, tanto na prática quanto no pensamento teórico, e isso me cativou profundamente “, explica.
Para ele, ser médico de família exige vocação para enxergar além da técnica. “Sem empatia, solidariedade e humanismo, a prática fica incompleta. Não é só aplicar conhecimentos médicos, é entender o indivíduo, sua origem, seus desejos, sua família. Somos médicos do território, da comunidade, e isso muda a forma de enxergar o cuidado.”
Rafael, que é cubano e está há duas décadas no Brasil, já trabalhou na Mangueira, Jacarezinho, Catete e atualmente está na Clínica da Família Estácio de Sá. Ele também destaca o papel da formação: “Fico muito orgulhoso de ver profissionais como a Nathália, que fizeram toda a formação aqui e hoje são preceptores. Isso mostra a força do nosso modelo de ensino e de cuidado.”
O dia a dia que faz a diferença
A rotina dos médicos de família envolve consultas presenciais, reuniões de equipe, acompanhamento de casos complexos, ações no território e visitas domiciliares semanais que são fundamentais para monitorar pessoas acamadas, famílias em situação de vulnerabilidade e pacientes em fases delicadas da vida.
Além disso, médicos de família e comunidade realizam pequenos procedimentos, acolhimento, manejo de condições crônicas e orientações preventivas, construindo uma rede de cuidado contínuo e sustentável.













