Unidade que homenageia Grande Dama do Samba oferece acolhimento pela cultura - Crédito das fotos: Edu Kapps/SMS
Dia 2 de dezembro é o Dia Nacional do Samba, e no Rio o samba também é saúde. A prova disso é que toda quinta-feira, às 15h30, o pátio da RUA Sonho Meu, em Cascadura, se transforma em um ponto de encontro onde o som do pandeiro, do violão e das palmas se mistura às risadas, conversas e reencontros. Nomeado em homenagem a uma das maiores sambistas da história, o CAPSad Dona Ivone Lara realiza uma roda de samba com usuários do Programa Seguir em Frente para promover acolhimento, saúde mental e reinserção social. O programa já se tornou um dos momentos mais aguardados pelos usuários e também pelos moradores do bairro, que são convidados a participar da atividade aberta ao território.
A iniciativa nasceu com um propósito simples, mas poderoso: usar a música como ferramenta de cuidado, acolhimento e reconstrução da autoestima. Para muitos pacientes, a oficina semanal representa um momento de descontração em meio ao tratamento, além da oportunidade de fortalecer vínculos, exercitar a expressão emocional e redescobrir habilidades sociais.
Entre um verso e outro, boas recordações aparecem. Enquanto toca o tamborim, Lupércio Caldeira, 57 anos, mata a saudade da juventude. “É uma terapia musical muito boa, a música para mim é transcendental. Me leva para outro patamar, me acalma. Quando eu estou aqui, sinto muita satisfação. Gosto de cantar os pagodes antigos, me trazem boas recordações”, diz o usuário.
Alexandre Vargas, musicoterapeuta e idealizador do projeto, destaca que a iniciativa tem um forte impacto terapêutico. “A oficina tem o objetivo de promover expressão corporal, autoestima e convivência. É um instrumento de atenção à crise, às vezes o usuário está mal e a gente faz o acolhimento, traz ele para a roda de samba. Ao participar da roda, eles se sentem parte do grupo”, explica.
Tiffany Macedo, 31 anos, cabeleireira e usuária da unidade, participou pela primeira vez recentemente e já está ansiosa para voltar. “Foi a primeira vez que eu frequentei e me senti acolhida. Gosto de samba da Dona Ivone Lara. Eu cantava na igreja, sabia tocar pandeiro, tamborim. O samba é muito importante porque faz parte da arte e da cultura do nosso país, principalmente da nossa cidade. E a arte nos atravessa, nos faz mudar, nos faz alcançar outros níveis. Por isso a música é muito importante para mim”, conta.

Programa Seguir em Frente
A Residência e Unidade de Acolhimento (RUA) Sonho Meu faz parte do Programa Seguir em Frente, que organiza ações de cuidado, acolhimento, assistência social e saúde voltadas à população em situação de rua. Integrado à UAA, o CAPSad III Dona Ivone Lara homenageia a Grande Dama do Samba, que, além de sua genialidade artística, foi uma enfermeira e assistente social pioneira, dedicando décadas à humanização do tratamento psiquiátrico e à luta antimanicomial ao lado de Nise da Silveira.
Para Hugo Fagundes, superintendente de Saúde Mental da SMS, iniciativas como essa mostram que cultura e cuidado caminham juntos. “Os CAPS são espaços de vida, convivência e troca. A roda de samba é uma expressão do próprio legado de Dona Ivone Lara, promovendo acolhimento, criatividade, participação social e reconexão com o território pela cultura e a expressão artistica”, destaca.
A RUA Sonho Meu é um complexo de oito prédios com dormitórios, refeitório, áreas de convivência, horta, atividades culturais, capacitação ocupacional e cuidados de saúde. O CAPSad III Dona Ivone Lara é um serviço integrado à RUA, com atendimento 24h para pessoas com transtornos decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas.
Além de garantir moradia temporária, documentação, cuidado clínico e saúde mental, o programa oferece ocupações remuneradas e oportunidades de formação para que as pessoas possam retomar a autonomia e se reintegrar à sociedade.













