Seguir em Frente já beneficiou mais de 4 mil pessoas em situação de rua

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Publicado em 28/07/2025 - 11:00  |  Atualizado em 20/08/2025 - 11:18
Com produção de hortaliças orgânicas, horta comunitária simboliza o sucesso do programa - Foto: Edu Kapps / SMS

Com a enxada na mão e o chapéu australiano na cabeça, Reinaldo Severiano ajudou a recuperar o lote abandonado nos fundos do antigo Hospital Nossa Senhora das Dores. Primeiro retiraram o lixo despejado ao longo dos anos, depois capinaram o matagal abandonado e, por fim, deitaram os primeiros tijolos na terra. Isso foi em dezembro de 2023, quando o Programa Seguir em Frente nasceu. Seu Reinaldo estava acostumado com serviço pesado (é pedreiro de mão cheia), mas ali descobriu uma nova habilidade. Como participante da primeira turma de bolsistas do projeto de horta comunitária, espalhou sementes de hortaliças pelo canteiro recém-demarcado.

Ele desfia seus 62 anos de história com um sorriso no canto da boca, como se contasse uma anedota. Em 1990, Reinaldo vendia fogos (“tinha gente que cheirava a pólvora”, destaca). Então com vinte e poucos anos, não bebia nada além de álcool — tinha tomado gosto pela cachaça depois de ter sido obrigado a provar a bebida no Exército, por ordem de um superior. Durante a Copa do Mundo daquele ano, antes de o Brasil ser eliminado pela Argentina nas oitavas-de-final, Reinaldo fez uma pequena fortuna, que se desfez num piscar de olhos. Foi nas comemorações daquela Copa, entre um chope e outro, que lhe apresentaram a cocaína.

A princípio ele tinha onde ficar. Morava com a família na Ilha do Governador, na Zona Norte. Na noite, conheceu uma mulher que também usava droga. Se apaixonaram, se casaram, tiveram dois filhos e depois se separaram. Um dia Reinaldo resolveu se internar numa casa de recuperação e, segundo ele, a ex-mulher, aproveitando sua ausência, vendeu a casa em que tinham morado e gastou todo o dinheiro em bebida e droga. Recém-saído da reabilitação, dormiu na rua pela primeira vez. Cedeu novamente à cachaça e à cocaína.

Ao longo de vinte e poucos anos, ficou perambulando pelo Rio. Dormia na Lapa, na Ilha do Governador, no Aterro do Flamengo e onde mais visse a oportunidade de tirar uns trocados. Chegou a pernoitar no Ceasa, onde revirava o lixo procurando o que reciclar, revendia mercadorias e fazia bicos. “Todo dia eu arrumava dinheiro, mas entrava por uma mão e saía pela outra. Gastava tudo com droga e mulher. Um dia, tive um estalo: preciso de mudar de vida”, lembra. Decidiu dar uma chance para o Programa Seguir em Frente, do qual já tinha ouvido falar. Ouviu dizer também que aquilo não daria em nada, mas não deu bola. O programa foi criado em 21 de dezembro de 2023 e, no dia 22, ele já era usuário da Residência e Unidade de Acolhimento (RUA) Sonho Meu, em Cascadura.

Como Seu Reinaldo, 4.890 pessoas já foram beneficiadas pelo Programa Seguir em Frente. O número corresponde a três em cada cinco pessoas em situação de rua no município, conforme dados do Censo de População em Situação de Rua de 2022. “Nossos serviços já alcançaram a maioria das pessoas em situação de rua do município, e estamos trabalhando para alcançar a totalidade dessa população. A experiência do Programa Seguir em Frente mostra que, mesmo nos casos mais complexos e difíceis, a reinserção produtiva é capaz de operar transformações radicais na vida das pessoas. Muitas vezes, uma oportunidade é o melhor tratamento que se pode dar”, afirma o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

 

‘Não sou preguiçoso, só precisava de uma oportunidade’

Quando Robson chegou à RUA Sonho Meu, alguns meses depois, uma ou outra mudinha já brotava, mas a maioria ainda não tinha vingado. Como a horta comunitária já não tinha mais vaga, ele chamou o monitor da turma, Mário, e insistiu: “Se eu botar a mão nessa horta, eu faço acontecer”. O afinco com que cuidava da plantação causava risadas entre os colegas. Ao vê-lo capinando, alguns diziam que aquilo não daria em nada. “Tá bom, você vai ver”, respondia. E seguia trabalhando em silêncio. Para quem já teve que cuidar das plantas em pleno semiárido nordestino, aquilo não era nada. 

José Robson Barbosa era então um jardineiro de 33 anos, nascido em Aracaju, Sergipe, cujo sonho de uma vida melhor no Rio de Janeiro fora destruído na busca frustrada por uma oportunidade no mercado de trabalho formal. De expressão séria e firme, a pele queimada de sol, as mãos cheias de cicatrizes, ele desfere respostas curtas e contundentes como facão no talo da bananeira carregada. Qual o segredo para cuidar das plantas? “Água. Você não toma água todo dia? A planta também.” 

Não tinha problema com bebida nem droga, mas isso não o protegeu da miséria e do preconceito. Com o dinheiro dos bicos que fazia, chegou a alugar uma casa nos arredores da Penha, na Zona Norte, mas foi parar na rua após um problema familiar. Dormiu em tudo que é canto até se fixar na praia de Copacabana, onde trabalhou por dois anos montando barraca na areia. “Não sou preguiçoso. Só precisava de uma oportunidade”, diz. Um dia, no Largo do Machado, foi abordado por um agente do Consultório na Rua. Diziam que não seria fácil conseguir emprego pelo Programa Seguir em Frente, mas ele decidiu tentar a sorte.

 

‘Agarrei a oportunidade como se fosse meu último trem’

Da terra dada como estéril, nasceram batata, batata doce, cenoura, pimenta, tomate, capim-limão, abobrinha, chicória, abacaxi, mamão e até quiabo de metro — uma espécie exótica de comprimento inusitado —, entre dezenas, centenas de outras plantas. 

Hoje, Reinaldo é auxiliar de serviços gerais no Centro Municipal de Saúde Madre Tereza de Calcutá, em Bancários, onde, entre outras tarefas, cuida do jardim, como aprendeu a fazer na RUA. Acompanhado pelo CAPSAd III Miriam Makeba, em Ramos, voltou a falar com os filhos após iniciar o tratamento em saúde mental. Com o dinheiro do emprego, está construindo uma casa na Ilha do Governador (“Depois de fazer tanta casa bonita pros outros, decidi fazer uma pra mim também”, brinca). Livre do álcool e das drogas há quase dois anos, voltou a estudar: terminou o sétimo ano do ensino fundamental e tem o plano de concluir o primeiro grau. 

“Agarrei essa oportunidade como se fosse meu último trem, meu último vagão, minha última estação. Parei porque, se eu não parasse com a droga, a droga parava comigo”, afirma. E completa: “Assinar a carteira com 62 é difícil pra caramba. Todo mundo pergunta: como você conseguiu? Eu digo: só Deus sabe o que eu passei. Fui atrás, corri atrás. Ainda guardo o crachá do estágio aqui como um retrovisor, pra eu olhar pra trás e não voltar.”

Atualmente, 349 usuários do Programa Seguir em Frente recebem bolsa de apoio para a realização de atividades em unidades de saúde, sendo 168 nos centros de atenção psicossocial (CAPS) e 181 na Atenção Primária. Desde a inauguração do programa, 89 ex-bolsistas da estratégia de reinserção produtiva já foram contratados em empregos formais.

Reinaldo guarda alguns tomatinhos frescos para levar para casa. Robson caminha entre as plantas com sua botina, passeia o regador pelas folhas, colhe uma fruta aqui, uma verdura ali, e as distribui entre os colegas. 

Iniciado no Programa Seguir em Frente há menos tempo, Robson ainda aguarda a sua chance de voltar ao mercado de trabalho. Já desmentiu os pessimistas outras vezes, sabe que sua hora vai chegar. Depois de cinco anos morando na rua, alugou uma quitinete com o salário de bolsista — “não deixo atrasar um mês”, destaca. Embora já não more na RUA Sonho Meu, ele ainda aparece na horta religiosamente de domingo a domingo, às 5h da manhã, para molhar as plantas. E revela o desejo de expandir a plantação. “Enquanto Deus me der força e coragem, nunca mais durmo na rua”, afirma. “Espero que todos aqui continuem, plantem. Se você plantar, pode não colher agora, mas lá na frente você vai colher coisa boa.”

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) é o órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro responsável por reformular e executar a política municipal de saúde e, como gestora plena do Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade, garantir o atendimento universal da população, conforme os preceitos do SUS. É a SMS que, diante do conhecimento das características e demandas próprias da população carioca, organiza as prioridades da saúde pública da cidade, dentro do que é previsto nas políticas públicas e serviços ofertados pelo SUS.

 

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